1. |
Dona Solidão
03:20
|
|||
Depois do Inverno, volto a sentir que o Mundo inteiro está p'ra ruir. E há quem não acredite. Bem tarde, é certo, mas aprendi, que o Mundo inteiro tem ódio de si. Conta-me essa história que me faz pensar. Corres tão depressa para não mostrar. Que vives de aparências, por te sentires só. Não te oiço a resposta, não te oiço a voz. E o medo vem por saberes que não tens mais ninguém. Dona solidão.
|
||||
2. |
||||
Deixo-me cair, rejeito a vida. Volto a rastejar, sem ter como sarar feridas. Penso para mim qual o sentido de não desistir de tudo o que antes queria. Volto a rastejar p'ro meu abrigo. Juro não lembrar o que é ser bem querido. Fingindo bem que sou tão firme, esperando que ninguém me pise. Cabeça a mil, qual carrossel.
|
||||
3. |
||||
Vejo ao longe o Sol morrer no Mar. Foco p'ra guardar o instante. Vou-me abrigar do vento. Ver a dor chegar com a chuva. Está-se a juntar ao sal que cai dos teus olhos negros. Queiram apertar os cintos. Forte turbulência à frente. Se ao menos eu pudesse ter o teu sossego. Desaparecer é o meu deus, sempre presente. Cosam-me a boca p'ra calar tudo o que penso. É tão fodido entender o silêncio eterno.
|
||||
4. |
Desassossego
03:03
|
|||
Julgando ser capaz de a salvar, estendi-lhe a mão a fim de entender. Toda a distância expressa no olhar, não rima com a palidez do rosto. O tempo passa e nasce a noção que coisa alguma altera a viagem, de alguém a quem o Mundo nada diz. Como cativa aguarda por partir. E dorme só, sob as estrelas. Alguém nos ouve o grito rouco? O calendário só alivia a imagem árdua que guardei de ti. Não esqueci.
|
||||
5. |
A Mãe
02:49
|
|||
Perco tempo a fazer contas que a Mãe não quer. Talvez seja cruel. Pensar que nunca foi feliz. Pois fez tudo só por nós. Tentou tudo ao pormenor. Perdi tempo a entender que afinal não és alguém a quem possa dizer: "viveste o que querias viver". Pois, vês? Não queria ter de ser eu a relembrar. Nunca é tarde para mais, foste tu quem me ensinou.
|
||||
6. |
||||
Che Guevara, não te acorda. Não se faz ouvir. Anda às voltas de revolta, quando vais agir? Pau mandado. Tão mal pago. Come a raiva. Remendado. Sou só mais um. Ser precário é não ter e dever. Faz as contas Zé, sinto-me a ferver. Ser precário é não ter e dever. Estou na merda Zé, só quero viver. Marcho em direcção ao Rio. Com um pensamento em riste. Lá vos espero.
|
||||
7. |
||||
Sei que não sabes quem sou mas já te ouvi a falar da voz triste que te agradou. Disse-me ela ao ouvido, faz-me um favor. Canta esta p'ro homem que por mim procurou. E se tudo é em vão, porque ris? Se te fartas em vão, p'ra onde fugir? Bem procuras em vão, até ao fim. Serás terra e pó e algo me diz que esta voz sabe bem, só para quem é infeliz.
|
Azevedo Silva Lisboa, Portugal
Urbano, precário, melancólico, agitador, pós-laboral.
Sejam bem-vindos.
Streaming and Download help
If you like Azevedo Silva, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp